Capítulo 2  

Todas acordaram e estavam mortas de fome. Só aí perceberam que haviam perdido o café da manhã do hotel, já que o mesmo era servido até as 9:00. Mais uma vez tiveram que ir até o shopping para comer algo.
   Chegaram lá e foram até um pequeno cafe que havia lá. A decoração era simples e por isso chamou a atenção das garotas. Tantas lojas luxuosas naquele shopping e um cafe tão aconchegante, pensou Marcela, deve ser de uma família simples...
   -Esse é o lugar, o que acham? –perguntou Mariana.
   -É perfeito. Eu o adoro. – disse Marcela. –É simples, deve ter alguma comida normal, ou seja, um pouco menos apimentada como é a típica comida americana.
   -Vamos entrar então? Eu mal posso esperar para comer algo. –disse Carlota.
   Entraram e surpreenderam-se. O tal cafe não era tão simples assim. A fachada era bem simples, mas lá dentro a decoração era de fazer inveja a qualquer restaurante francês. Sentaram-se e imediatamente uma mulher loira, de grandes olhos verdes (...parecida vocês sabem com quem....) veio atendê-las:
   -Bom dia, o que gostariam de comer? –perguntou com um sotaque inglês.
   -Nós gostaríamos de...o que você tem? –perguntou Flávia, receosa.
   -Trarei o cardápio e vocês poderão decidir-se.
   A mulher saiu e logo começaram os comentários:
   -Nossa, que lugar diferente... –disse Rita.
   -Lugar diferente? Estranho você quer dizer. –corrigiu Marcela. –Repararam na mulher que veio nos atender? Ela não lembra alguém que conhecemos.....?
   Todas riram mas ainda estavam meio receosas, até que a “mulher estranha” voltou. Elas pediram o que lhes parecia mais normal: pão, queijo, presunto, café, leite e sucos de laranja e melão. A refeição até que havia corrido normalmente, ninguém atacou ninguém , o café não estava envenenado, nem a mulher loira as perseguiu com um facão.
   Ao saírem do tal restaurante voltaram para o hotel e começaram a arrumar as coisas para a escala dos ingressos. Marcela e Rita arrumaram uma bolsa com tudo que precisariam e mais algumas coisas: dinheiro, máquina fotográfica, 2 discmans, CDs , batom ,escova (coisas que só nós mulheres precisamos...)  e sem falar nas pastinhas com fotos dos Boys que elas tanto amavam. Quando estavam para sair do hotel e ir para o estádio, tiveram um lampejo: ande ficava a Orlando Arena? Sabiam tudo, menos isso. Já estavam ficando desesperadas quando Carlota veio com uma idéia:
   -Gente, lá embaixo tem aquele stand com uns folhetos que provavelmente deve Ter um mapa de Orlando e com certeza Orlando Arena dever estar lá.
   Carlota daquela vez havia realmente se superado. Todas pularam em seu pescoço e a cobriram de beijos.
   -Calma, calma... –disse ela, rindo. –Só aceito beijos do Nick...
   -Pode Ter certeza que ele vai te cobrir de beijos, bebê... – disse Marcela.
   Carlota começou a bater em Marcela. Detestava ser chamada de bebê. Tinha idade suficiente para não ser considerada mais uma criancinha. Mas quanto mais ela ficava aborrecida, mais Marcela provocava e se deliciava com a raiva dela...essa era Marcela. Mas ela a adorava mesmo assim.
   -Eu não sou bebê... –disse Carlota. –Quantas vezes eu vou Ter que te dizer isso, Marcela?
   -Bebê, quer dizer, querida senhora madura, você e o Nick serão sempre bebes para mim, por mais que ele seja mais velho que eu e por mais velhinha que você fique, sempre serão meus dois bebes...
   Flávia, que já não estava gostando muito da idéia de Nick com Carlota e dos beijos que os dois iam trocar, interrompeu:
   -Gente, já são 13:30. Por mais rápido que seja chegar à Orlando Arena, nós não sabemos aonde ela fica...vamos ver esses tais folhetos e ir logo pra lá.
   Foram até o saguão e correram como loucas até a lojinha do hotel e encontraram  finalmente o que estavam procurando. Localizaram a Orlando Arena num mapa e pediram a um rapaz da recepção para chamar um táxi. Tinham que se dar o luxo pelo menos uma vez. Na volta pegariam um ônibus, pois já saberiam qual pegar.
   Chegaram finalmente à Orlando Arena. Era majestosa. Um palco realmente perfeito para os Backstreet Boys. Desceram do táxi e se surpreenderam com a fila que já havia do lado de fora do estádio. Mais ou menos 100 se amontoavam na frente da arena. Sentiram-se muito mal, nunca imaginariam um número tão grandioso de fãs histéricas em frente ao estádio. Marcela tremia de nervoso:
   -Alguém me ajuda, por favor... –ela disse, quase chorando. –Pelo amor de Deus, eu acho que não vou conseguir, com essa gente toda aí...
   -Calma, Marcela. –disse Mariana, abraçando-a . –Nada nem ninguém vai tirar os ingressos desses shows das nossas mãos.
   Marcela não sabia dizer mas estava realmente se sentindo culpada por aquele gesto de Mariana. Esperaria aquilo de qualquer uma das garotas menos dela. Não depois das discussões, de tudo que elas disseram uma para a outra. Pensou bem e resolveu que não iria estragar aquele momento dizendo algo que poderia não ser bem digerido por Mariana. Nisso, todas as outras vieram e se abraçaram. Foi um momento mágico. Parecia que pela 1a vez elas estavam se entendendo.
   -Bem –disse Rita, secando uma lágrima que começava a rolar. –acho sinceramente que vocês já sabem como vir para o estádio...eu e Marcela vamos para a fila porque não queremos que mais nenhuma garota entre na nossa frente, né?
   Marcela concordou:
   -É claro que ninguém vai tomar nosso lugar. São quatro em ponto. Nos vemos em quatro horas, estejam aqui, sem atrasos, ok? Isso serve pra você, dona Carlota, que agora resolver imitar os hábitos do Sr. Nick Carter e demora a acordar...se chegar aqui atrasada, já sabe, né , bebê?
   -Primeiro, - respondeu Carlota. –Não vou me atrasar, gosto de dormir mesmo, mas sou tão competente quanto o Nick...não me atraso e segundo: NÃO SOU BEBÊ!!!! Quantas vezes vou Ter de repetir isso?
   -Enquanto você não aceitar que é meu bebê e sempre será, eu não vou parar de te chamar assim...e vão logo embora descansar, porque em três horas e cinqüenta e cinco minutos vocês tem de estar de volta.
   -Estamos indo. –disse Flávia. –Vê se não aprontam na fila, ok?
   -Flavinha, -disse Marcela. –Só vamos aprontar se tiver alguma fã muito exaltada falando o que não deve do AJ ou do Kevin...do contrário, elas estão salvas das minhas, quer dizer, das nossas garras, né, Rita?
   -Estou totalmente de acordo, se elas não mexerem com nossos homens não haverá nenhum tipo de conflito. Agora se elas provocarem...eu chamo a Marcela porque violência não é comigo...
   Marcela deu um tapa em Rita, que respondeu com um sonoro ‘ai’:
   -Calma, é só brincadeirinha...se surgir alguma maluca NÓS batemos nelas...como uma equipe, sempre. Acho que o Paulo Sérgio iria adorar ouvir isso... “uma equipe”...ele, que sempre pediu para nós não discutirmos e sempre agirmos como uma equipe no escritório iria vibrar com isso...
   -Ritinha, eu acho que ele ia levar um choque, iria cair pra trás. Nossas opiniões quase sempre divergem no escritório, mas quando o assunto é Backstreet Boys, nossos pensamentos são sempre os mesmos, não concorda?
   -Claro que sim, até que ia ser engraçado, Paulo Sérgio caindo pra trás...imagina a cena...
   Marcela sorriu mas seus pensamentos foram cortados por Flávia:
   -Será que dá pra vocês pararem de falar em trabalho um pouquinho? Além do mais, nós estamos viajando, quem é Paulo Sérgio?
   Marcela olhou para Rita e sorriu:
   -Desculpa, Flávia. – falou Marcela, pausadamente. –É que não pudemos evitar de fazer esse comentário. Paulo Sérgio é o chefão do nosso escritório, sujeitinho metido a besta, só porque estudou em Harvard se acha o melhor. Um chato de primeira. Eu, Rita e nosso amiguinho Fausto sempre discordamos de tudo perto dele só para vê-lo com raiva e falar o seguinte:
   Marcela e Rita engrossaram a voz e falaram com tom solene:
   “Em Harvard não se encontra isso, nem nos melhores escritórios de NY, todos os contratados são perfeitamente semelhantes...
   Elas riram e foram acompanhadas pelas outras.
   -Bem, o papo está muito bom mas o tempo está passando...- disse Carlota. –Vamos embora, garotas?
   Despediram-se. Agora era só Marcela e Rita. As duas entraram na fila...não podiam acreditar que todas aquelas garotas pensaram na mesma coisa que elas, ir mais cedo para a fila. Se tudo continuasse como estava indo, os ingressos se esgotariam em tempo recorde, mais uma vez. Marcela sentiu-se orgulhosa por estar ali e finalmente realizar seu sonho. Iria ver um show dos seus meninos...do seu Panda...AJ...ela não acreditava que o amava com a mesma intensidade e paixão dos anos antes...tinha vontade de falar com alguém, mas não sabia se Rita a entenderia. Seu coração dizia que sim então ela resolveu perguntar:
   -Rita, o que você sente pelo Kevin?
   -Que tipo de pergunta é essa, Marcela? Você sabe bem que eu amo o Kevin, que ele é único pra mim, nunca nenhum homem vai chegar perto do que ele significa pra mim...mas por que essa pergunta agora?
   -Não, é que eu estava aqui pensando e cheguei a uma conclusão, mas antes de dizê-la, quero que você me diga mais uma coisa: o seu amor pelo Kevin é o mesmo de anos atrás?
   Aquela pergunta fez Rita parar e pensar. Realmente a fez pensar. No início, Kevin era quase uma obsessão. Conhecê-lo era questão de honra. Mas com o passar dos anos e de tantas decepções em relação às namoradas dele e as tentativas fracassadas de conhecê-lo foram fazendo com que ela perdesse subitamente o interesse nele...ainda o amava e cada vez que o ouvia na conversation de “All I Have To Give” se arrepiava toda...mas era diferente por que Marcela tinha que vir com aquela pergunta logo agora? Se o amava? Era certo que sim, tão certo quanto um e um ser dois, mas do mesmo jeito? Lembrou-se da primeira vez que o vira, paixão à primeira vista. Sim, a resposta era sim, seu coração ainda disparava ao vê-lo, ao lembrar da voz rouca, dos olhos verdes, os lábios finos, o corpo bem definido, os braços fortes e o caráter puro e cristalino...tudo o que ela vinha procurando em um homem há tantos anos e tinha certeza que só encontraria nele. Sim, o amava da mesma forma, com a mesma intensidade dos outros anos. Se tinha alguma dúvida, ela se dissipou com a pergunta de Marcela. Foi veemente ao respondê-la:
   -É claro que o amo, da mesma forma, sempre, achava que não, mas ainda o amo sim, do mesmo jeitinho...agora você me diz o porquê de todo esse questionário...
   Rita estava com medo de ouvir o que Marcela tinha para lhe falar. Será que Marcela não amava mais o Panda? Impossível...Marcela sempre foi e sempre seria apaixonada pelo AJ...o que ela sentia era algo muito forte. Assustava a todos, até à própria Marcela. As pessoas que não acreditavam no amor dela diziam que ela estava ficando louca quando ela afirmava uma coisa que o Bone havia dito, que ela já havia pronunciado antes...era uma coincidência, alguns diziam. Marcela e suas amigas sabiam que não era apenas aquilo. Algo muito mágico unia AJ e Marcela, de uma forma que assustava mas que ao mesmo tempo motivava a todas a buscar seus sonhos. É claro que Marcela o amava...ou não?
   Os pensamentos de Rita foram interrompidos pelo tom de voz de Marcela: calma e pausada. Ela, que era tão agitada para falar, parecia que ia dar uma notícia fúnebre.
   -Não, é que eu pensei que o que eu estava sentindo era normal...
   -Marcela, você está me deixando assustada, fala logo de uma vez...
   -Rita, não precisa se assustar...eu estava pensando que se depois de todos esses anos, eu havia enlouquecido ou era normal sentir o que eu sinto pelo AJ...
   -E o que você sente?
   -Por mais incrível que pareça eu ainda o amo, nada mudou, nadinha mesmo. Os anos passaram, ele cresceu, eu cresci, ele mudou o visual várias vezes, trocou de namoradas centenas de vezes, mas o meu amor por ele continua o mesmo...é impressionante. Parece que a distância só fez aumentar...
   Rita parecia surpresa, mas na verdade estava aliviada.
   -Nossa, Marcela, por um momento pensei que você iria dizer que não gostava mais do AJ, ou que havia trocado de favorito e que ele era o Kevin.
   Marcela sorriu:
   -Não, Rita, o Kevin nunca seria meu escolhido. Eu estava meio confusa com meus sentimentos, não sabia dizer, por um momento parecia que todas as minhas amigas haviam evoluído e só eu continuava apaixonada pelo Bone. Mas pelo visto, eu não sou a única por aqui, né?
   -Claro que você não é a única, Marcela. 0 Kevin vai ser sempre meu amor. E olha à nossa volta, centenas de garotas apaixonadas como nós, esperando pelo show.
   -Rita, elas podem ser até apaixonadas pelos meninos mas com certeza você pode contar nos dedos quantas delas gostam deles desde o início...
   -Nisso você tem razão. E EU e VOCÊ somos uma delas, certo?
   -Certíssima. – Marcela sorriu e abraçou-a. –Nós somos realmente fãs, desde os primórdios do Backstreet, desde “Everybody”, lembra? O Fantasma da Ópera?
   -Marcela, o que mais me marca quando você fala em Fantasma da Ópera é a sua viagem à Londres.
   -Por que?
   -Porque eu lembro de você Ter ligado pra minha casa às 3 da manhã só para me dizer que havia visto àquela peça. Eu juro que fiquei com muita raiva de você.
   -Desculpa, Rita. –disse Marcela, entre uma gargalhada e outra. –É que eu fiquei tão emocionada, eu tentei ligar pra Renata, mas sabia que ela estava com o Fausto e eu tinha certeza que você e Carlota estariam sozinhas...só me esqueci do fuso horário, pequeno detalhe...
   -É, pequeno detalhe também que eu estava no meio de um sonho maravilhoso com o Kevin e você interrompeu.
   -Peraí, sonho com o Kevin? Dessa eu não sabia. Se você sonhou com um dos boys, eu provavelmente estava no sonho também, já que eu estou sempre lá para apimentá-lo com o Bone...
   -Não, dessa vez o sonho foi só com ele...
   -Você não estava matando ele como eu fiz uma vez, né?
   -Claro que não, você acha que eu ia matar meu amorzinho?
   -Sei lá, eu também nunca havia pensado em matar o Kevin, nem mesmo quando ele saiu com a Fatima, mas aconteceu...poderia Ter acontecido com você também, ou não?
   -Não poderia não porque eu nunca desejaria mal ao Kevin, mesmo ele saindo com aquela mulher feia.
   Enquanto Marcela e Rita conversavam animadamente na fila, o clima no hotel não era dos mais agradáveis...
   -Será que você não poderia ser um pouquinho mais humana? –gritava Flávia. –Eu realmente não te entendo, Mariana. Nós sempre sonhamos com isso, estar aqui num show dos Boys e você fica pensando no que comprar, nas fotos que vai vender para as associadas...que tal você parar um pouquinho com essa loucura e tentar ser feliz?
   Mariana não esperava ouvir aquilo de sua melhor amiga, podia até suportar um comentário daquele de qualquer pessoa, menos de Flávia, mas por um momento pensou no que ela havia olhe dito. Será que estava ficando mesquinha? Queria se divertir, era óbvio, mas por que não ganhar algum dinheiro com isso também? De qualquer maneira, não estava mais agüentando os gritos de Flávia. Não suportava os da sua mãe, por que iria suportar os de Flávia, mesmo ela sendo sua amiga?
   -E será que dava pra você parar de gritar aos meus ouvidos? Não estou mais agüentando isso, vou ficar com dor de cabeça por sua causa. –disse ela, irritada.
   -Você irrita a todos com essas coisas relacionadas à dinheiro... –replicou Flávia. –Cansei de você, quando voltarmos pro Brasil, deixo o fã-clube.
   Carlota, que observava atenta e assustada à toda aquela discussão, não sabia o que fazer. Estava impotente. O que estava acontecendo ali era o que Marcela costumava dizer às vezes: briga de cachorro grande. Ela não poderia fazer nada, acabaria sobrando para ela, que não tinha nada a ver com aquilo tudo. Estava pensando numa maneira de ajudar, mas sem se envolver em toda aquela confusão. Não tinha nada a ver com aquilo, nem queria Ter, estava ali para ver o show, é claro e Nick Carter...ah, Nick, pensou Carlota, “queria que você estivesse aqui para me tirar de toda essa confusão...”. Seus pensamentos foram cortados por mais um grito de Flávia. Parecia que a situação estava ficando insuportável, ela estava vendo a hora em que uma das duas ia perder e cabeça e partir para a violência. Era preciso agir, e rápido.
   Pensava enquanto Mariana e Flávia ainda discutiam. De repente uma coisa veio à sua cabeça. Poderia ser uma loucura, mas era a única solução:Marcela. Ela era a única pessoa capaz de conter a briga daquelas duas. Saiu do quarto e foi até a sala, sentou-se no sofá-cama e debruçou-se até alcançar o telefone. Discou para o celular de Marcela, esperava que ela pudesse ir até lá e acabar com aquele rolo. A ligação não demorou muito a completar. Pôde sentir pelo tom de voz de Marcela que ela e sua irmã estavam tendo uma conversa bem animada. Foi falando, tentando disfarçar a impaciência:
   -Marcela, tudo bem por aí? Que bom que eu consegui falar com você...
   -Aqui tá tudo ótimo, melhor impossível...e aí?
   -Tá tudo bem....ai, Marcela, não dá pra esconder, tá tudo péssimo, a Mari e a Fla estão brigando e eu não sei mais o que fazer, estou totalmente perdida...
   Marcela tinha quase previsto que aquilo iria acontecer. Parecia que quando o telefone tocou ela já estava esperando por aquilo. Tentou se acalmar e principalmente acalmar Carlota, que estava em pânico:
   -Carlota, eu quero que você me diga o que elas estão falando, tá? Tudinho, me entendeu?
   -Tá, Marcela, mas elas estão falando muita coisa, muitas delas eu nem sei o porquê.
   -Carlota, a Flávia falou alguma vez em dinheiro?
   -Falou sim, pra ser sincera, acho que essa foi a palavra que ela mais falou durante toda a briga, mas por que?
   -Por nada não, bebê. –disse Marcela.
   Marcela não podia acreditar no que estava ouvindo. Tinha tido uma conversa tão séria com Flávia a respeito da Mariana e sobre aquela história toda de dinheiro. Tinham até feito um pacto sobre aquilo. Ela tinha de fazer algo para impedir que o sonho de todas fosse destruído pelo dinheiro. Estava pensando quando Carlota falou:
   -Marcela, o que eu faço? Será que não dava pra você vir pra cá e acabar com toda essa confusão?
   -No way, meu amor. Nem pensar. Eu não vou até aí mesmo. Eu estou na minha escala e não vou deixar sua irmã aqui sozinha de jeito nenhum. Infelizmente acho que você vai Ter de resolver esse problema sozinha.
   -Sozinha??? –Carlota parecia assustada. –Eu não posso, se eu chegar lá e falar alguma coisa, elas vão olhar pra minha cara e dizer pra eu dar o fora porque eu sou muito criança para estar lá no meio dos assuntos delas...
   -E o que te leva a crer que eu vou conseguir acalmar os ânimos daquelas duas?
   -Marcela, você consegue, eu tenho certeza. Vem pra cá, por favor...
   -Sinto muito, Carlota. Não vou pro hotel tão cedo. Mas vou te ajudar. Passa o telefone pra Flávia.
   -Enlouqueceu? Ela vai descobrir que eu liguei pra você e depois vai sobrar pra mim...
   -Carlota, deixa de ser boba. Com a gritaria que você me disse que elas estão fazendo, nunca que elas iriam ouvir o telefone tocar. Diga a ela que você estava na sala quando eu liguei, querendo saber como estavam as coisas e eu ouvi os gritos e quis saber o que estava acontecendo. Vai, mulher, se mexe!!
   Cartola, mesmo com medo foi até o quarto. Bateu três vezes na porta e entrou.
   -Flávia, a Marcela quer falar com você.
   -A Marcela? Você ligou pra ela?
   -Claro que não. Vocês estavam gritando tanto que nem ouviram o telefone tocar.
   Como Carlota previra, Flávia realmente pensou que ela havia ligado para Marcela.
   Flávia atravessou toda a sala, deixando Carlota e Mariana sozinhas no quarto. Pegou o telefone e já ia começando a falar quando Marcela a interrompeu:
   -O que você está pensando, Flávia? A gente conversou tanto, fizemos um pacto, não tornaríamos a tocar nesse assunto de dinheiro, nem entre nós, muito menos com a Mariana...
   -Eu sei, Marcela, mas eu não consegui me controlar...
   -Pois  tente, e agora saia desse telefone, sai desse quarto que eu quero falar com você em particular.
   -Marcela, -ela estava finalmente esboçando um sorriso. –Nós estamos falando em particular...
   -Mas é claro que não estamos, você já se esqueceu que esse telefone tem uma extensão?
   -Marcela, você acha que a Mariana seria capaz de ouvir nossa conversa?
   -Não sei, mas é melhor não arriscar. Pega o elevador e vai lá embaixo me ligar de um dos telefones que tem lá. Depois você me dá o número que eu te ligo. É mais seguro assim.
   -Tudo bem, você é quem sabe. Estou desligando. A gente se fala em 5 minutos.
 

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